Um brinde possível

O vinho tem sido a bebida do isolamento. Leia meu artigo, que foi publicado originalmente na revista Veja.

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Num período em que a economia está travada, chama a atenção que as vendas de bebidas alcoólicas estejam explodindo como a rolha de um espumante.

As garrafas são, sem dúvida, uma das maiores estrelas do delivery.

Estatísticas mostram que, desde o início do distanciamento social, o comércio online desse segmento cresceu inacreditáveis 800%.

Se as adegas têm o que comemorar, não se pode dizer o mesmo dos seus clientes.

O cenário mundial não está para celebrações ou confrarias, para dizer o mínimo.

Mesmo os que estão contornando com criatividade as dificuldades naturais destes tempos, provavelmente não têm ânimo para brindar nada além da resiliência.

O álcool traz promessas de prazer e alertas de ameaças. Beber não torna ninguém necessariamente alegre.

A impressão se popularizou porque, socialmente, o efeito desinibidor da primeira taça costuma ficar com todos os louros.

Mas é uma impressão errada, quando se consideram outras situações.

A bebida, na realidade, apenas tende a potencializar as sensações.

Se você está alegre, ela talvez faça com que pise nas nuvens.

Se está triste, ela provavelmente o afundará ainda mais.

A bebida em si é neutra.

É como a faca afiada, que pode ser usada para garantir o corte delicado de um sushi, mas pode também machucar.

Tudo depende das pessoas.

Há o inseguro, que bebe para ficar interessante.

E há o esnobe, que bebe para diminuir a própria resistência à chatice alheia, ou seja, para tornar os outros interessantes.

Em plena reclusão da pandemia, beber pode ser um problema.

Considere que estamos todos mais sujeitos à ansiedade, tentando manter a estabilidade emocional e a saúde mental.

Nessa situação, usar a bebida como válvula de escape é um tiro que pode sair pela culatra.

Então, o jeito é deixar fechada a garrafa comprada online?

Não.

Embora destilados e fermentados em geral certamente combinem com festejos gregários, nada contra degustar um bom copo, ou taça, a dois ou em família.

Entre as muitas opções disponíveis, não hesito em recomendar o vinho, a bebida “que alegra o coração dos homens”, como está anotado nos Salmos da Bíblia.

Ao contrário das outras, o vinho ajuda a relaxar, um conforto necessário neste momento.

Além disso, ao contrário do que muitos acreditam, não pesa tanto na balança.

Eu não tomo, por acreditar que o vinho baixa meu metabolismo, mas minha filha perdeu 20 quilos sem abrir mão do vinho.

Vinhos são ricos em polifenóis, como o resveratrol, pertencente à classe de compostos bioativos, a base da famosa dieta da Adele, que apareceu 45 quilos mais magra no seu perfil do Instagram, mesmo tomando vinho e comendo chocolate amargo.

Será?

Talvez seja bom demais para ser verdade.

Eventuais exageros à parte, no entanto, a dieta da cantora – a Sirtfood, proposta por nutricionistas ingleses – tem lá sua lógica: o emagrecimento seria estimulado pelos polifenóis, que ativam as enzimas sirtuínas, cuja ação antioxidante ativa a queima de gordura.

De qualquer maneira, o vinho está longe de ser o vilão das dietas. Michel Montignac, criador do método de emagrecimento que leva o seu nome defende que perder peso não exige abdicar do prazer de comer ou beber.

O objetivo, segundo o francês, é consumir carboidratos com índice glicêmico baixos (até 35), para permitir que nossa enzima de perda de peso (triglicerídeo-lipase) seja ativada.

O interessante é que o vinho, curiosamente, tem índice glicêmico igual a zero.

Aí está uma excelente desculpa para seu próximo brinde.

Este texto foi originalmente publicado na revista Veja.

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