Quem petisca, só arrisca

Por que o consumo de guloseimas aumentou na pandemia? Leia meu artigo publicado na revista Veja.

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Você reparou se está comendo fora de hora ou beliscando mais nos últimos meses?

Se a resposta for sim, fique tranquilo, você não está sozinho.

O problema não tem gênero, atinge homens e mulheres, mas sinto que elas sentem mais no corpo as consequências de caírem nessa tentação, sobretudo em situação de confinamento.

Um estudo da Universidade de São Paulo com mais de mil entrevistadas concluiu que, durante a pandemia, aumentou 23% o número de mulheres que não resistem a uma guloseima.

A tendência pode ter se acentuado, mas não é nova.

Mas afinal, por que gostamos tanto de beliscar?

A explicação tem mais a ver com a mente do que com o estômago.

Não se trata de fome; trata-se, por assim dizer, de um “comer emocional”.

Alimentos ricos em açúcar ou gordura proporcionam sensação imediata de prazer e, quase como uma droga, nos ajudam a lidar com o estresse, a tristeza, o tédio.

Não por acaso, a pesquisa mostrou que o hábito cresceu mais entre quem apresentou sinais de depressão e solidão.

A ponte entre nosso estado emocional e o que colocamos na boca não é nova.

Freud falava da “fixação oral”, ou seja, de como o cérebro pode recorrer a estímulos orais para lidar com a ansiedade.

A teoria freudiana já foi bem questionada, mas é inegável que existe alguma correlação entre a pressão a que estamos submetidos e manias como roer unhas, mascar chicletes, fumar, beber café ou álcool e, é claro, beliscar.

A pandemia exacerba esses hábitos: quando tememos pela saúde e pela vida daqueles que amamos, ficamos mais propensos a compensar o peso emocional com um prazer efêmero.

Além disso, nossa rotina também mudou drasticamente.

Os que puderam adotar o home office passam o dia ao lado da geladeira, sempre pronta a sofrer o próximo assalto.

Então estamos condenados a sair do confinamento com alguns indesejáveis quilos a mais?

Não necessariamente.

O mesmo estudo constatou que o número de mulheres que estão cozinhando subiu 28% – sinal de que, mesmo em meio à pandemia, é possível construir um estilo de vida melhor.

Experimente cozinhar mais!

Preparar comida em casa, além de mais saudável, pode se tornar um hobby divertido.

Aprender uma receita nova é uma jornada estimulante e prazerosa, que alivia justamente os problemas emocionais.

Acima de tudo, respeite os limites do seu corpo e da sua mente.

A pandemia jogou sobre nós uma carga repentina de ansiedade, o que impactou nossa alimentação.

Não é hora, portanto, para dietas radicais ou metas impossíveis.

Encontre o seu próprio jeito de manter uma rotina saudável, o que é fundamental para sua qualidade de vida no longo prazo.

Isso não significa abrir mão de pequenos prazeres no dia a dia.

Permita-se comer fora de hora, sim, mas não exagere.

Um pedaço de bolo, não o bolo inteiro, com direito a glacê.

Um bombom, não uma barra de chocolate tamanho família.

Uma fatia extra de queijo, não uma caixa de Camembert.

E assim por diante.

A chave, como sempre, é o equilíbrio.

Publicado originalmente na revista Veja.

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