Nutrição desiludida

Para atrair mais consumidores, frutas e vegetais estão se tornando cada vez mais doces. Entretanto, estudo da Johns Hopkins University revela a má notícia: eles estão tornando-se menos nutritivos.

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Seu sabor agrada mais ao paladar, mas engana-se quem pensa que isso significa maior riqueza nutricional das frutas e vegetais atualmente encontrados no mercado.

Pelo contrário.

Tornar os vegetais mais palatáveis para crianças e pessoas que precisam melhorar a dieta mas desagradam do sabor das hortaliças é uma meta louvável.

Mas o preço do esforço não compensa os resultados alcançados.

Nos Estados Unidos, por exemplo, há 30 anos a grapefruit branca era mais popular que as espécies rosa e vermelha, mais doces.

Hoje em dia, estas últimas são mais produzidas e vendidas que a variedade branca – mas com um porém.

A grapefruit branca contém 50% a mais de compostos de sabor amargos, responsáveis por benefícios ao sistema cardiovascular.

Entre estes compostos está a naringina, que tem poder anti-inflamatório.

Através de manipulação genética e técnicas de enxerto, a couve-de-bruxelas também ganhou sabor mais adocicado, o que lhe garante maior atratividade para as crianças.

Mas, com isso, este crucífero perdeu seu elevado teor de glicosinolato, que confere proteção para as células contra o estresse oxidativo, além de ativar algumas enzimas de detoxificação hepática.

Perdeu também muito de sua sinigrina, substância comprovadamente eficaz no combate ao câncer.

Por conta da evolução da espécie, os seres humanos associam sabores amargos a ameaças, como plantas venenosas.

Com frequência, os compostos que garantem esta peculiaridade ao sabor de algumas espécies vegetais servem para protegê-las das pragas.

A razão pela qual fitonutrientes amargos previnem certos tipos de câncer é que eles podem destruir células.

Ou seja, são benéficos porque são tóxicos.

Para os cientistas, comer frutas e vegetais sem esta classe de fitonutrientes equivale a consumir as calorias vazias de um refrigerante.

Comemos, mas delas não nos beneficiamos.

Outros destes compostos amargos incluem a solanina, encontrada em batatas, e a tomatina, nos tomates.

Tomates nativos têm 166 mais vezes tomatina que os que encontramos no supermercado.

Esta é uma triste constatação.

A uniformização do paladar, forçada pela indústria dos alimentos, nos rouba o presente mais precioso da natureza.

Ao menos, com este conhecimento, podemos fazer as melhores escolhas.

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