A cara do crime

Os maiores vilões não estão apenas na lista da Interpol. Receita do MasterChef na Europa que viralizou foi marcada como “monstruosa” pelos ativistas da obesidade. E incentiva tentativas perigosas.

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Ele parece um mero filé a parmegiana.

Mas o prato é algo mais – bem mais.

São cerca de 2 mil calorias em uma porção.

Ou seja, todas as calorias esperadas para um dia inteiro de uma única vez.

Assim é o “parmo”, prato tradicional da região de Teesside, na Inglaterra.

Para fazer um parmo, a carne é coberta de farinha de rosca e frita até ficar crocante e dourada.

As versões modernas da especialidade são feitas com peito de frango.

Carne de porco foi originalmente usada.

Esta milanesa é finalizada com uma camada de molho bechamel e queijo derretido.

Esta bomba calórica permanecia contida geograficamente.

Até uma versão ser apresentada no reality show MasterChef europeu.

O prato entrou no radar do Fórum Nacional da Obesidade como inimigo público número um.

Nas palavras do presidente do órgão, Tam Fry, “você teria que ser um atleta olímpico para comê-lo sem efeito”.

“Para o resto da humanidade, há um risco inacreditável de obesidade”.

Entretanto, o debate fugiu da racionalidade.

O parmo é ferozmente defendido pelos habitantes locais.

“Não acho razoável condenar um prato em particular sem trazer o resto da culinária britânica em debate”.

Assim pensa o chef Anthony O’Shaughnessy, que preparou a iguaria na TV.

Em defesa de sua escolha, revelou que a preferência cresce pelo baixo custo da receita.

Na região, o desemprego é alto.

Estes componentes ajudam a criar “desertos alimentares”.

Em bairros mais pobres, a pouca oferta de alimentos in natura e ações da indústria fazem das populações alvo fácil de produtos ultraprocessados.

O fenômeno é global.

Somente 40% dos brasileiros consomem frutas e hortaliças todo dia.

A pesquisa Datalholha de 2017 ainda mostra que a região Sudeste e pessoas com maior escolaridade e das classes A e B (acima de 10 salários mínimos) são os que mais consomem.

Pessoas com rendimento mensal de até dois salários mínimos consumem 15,3 Kg de frutas em um ano.

Já entre os com renda superior a 15 salários mínimos, o consumo era de 59,2 Kg (pesquisa realizada pela Cepea – Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Esalq/USP em 2008).

Tudo contribui para o aumento da obesidade.

Do lado dos desertos alimentares, apenas políticas públicas e crescimento econômico podem resolver.

Informação ajuda, e é por isso que estou aqui.

Quanto a pratos ultracalóricos que aparecem na TV e nas redes sociais, vejo que mais divertem do que alimentam.

Que fiquem restritos à categoria de atração.

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